Crítica | Elio: A Pixar entre o afeto e o automático
Elio, novo lançamento da Pixar, chega aos cinemas com uma promessa ousada: provar que ainda há espaço para histórias originais em um mercado saturado por sequências e reboots. No entanto, apesar da proposta nobre e de um começo promissor, o longa dirigido por Adrian Molina escorrega justamente ao apostar demais em sua fórmula consagrada e [
Publicado em 22 de Junho de 2025, às 07h01
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Elio, novo lançamento da Pixar, chega aos cinemas com uma promessa ousada: provar que ainda há espaço para histórias originais em um mercado saturado por sequências e reboots.
No entanto, apesar da proposta nobre e de um começo promissor, o longa dirigido por Adrian Molina escorrega justamente ao apostar demais em sua fórmula consagrada e já desgastada.
Logo nos primeiros minutos, o filme estabelece um tom sensível e genuinamente tocante. Elio, um garoto solitário, órfão e deslocado, deseja escapar da Terra para encontrar acolhimento no espaço. Esse desejo se transforma em uma jornada literal quando uma organização alienígena o confunde com o líder da humanidade.
A emoção que permeia essas cenas iniciais é verdadeira, e a conexão com o espectador acontece quase de forma automática. A dor de Elio é compreensível, universal e poderosa.
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A relação entre Elio e sua tia Olga, forçada a assumir o papel de mãe num momento de luto e desorientação, também é bem construída.
A dor silenciosa que une os dois personagens, sem grandes discursos ou cenas apelativas, revela o talento da Pixar em traduzir sentimentos complexos com simplicidade e beleza.
O mesmo pode ser dito da dinâmica entre Elio e Glordon, alienígena fofamente deslocado que também tenta fugir das pressões de um legado que não escolheu. Juntos, os dois formam um duo interessante, embora subexplorado.
O problema de Elio surge quando a aventura decola para o espaço, literalmente. A partir do momento em que a fantasia toma conta da narrativa, o longa parece perder o foco e a identidade.
Os coadjuvantes alienígenas pouco contribuem para o enredo, e as piadas que antes caracterizavam as animações do estúdio com sagacidade e emoção se tornam ausentes. A ficção científica, embora visualmente encantadora, soa genérica e previsível. Em muitos momentos, o design lembra mais episódios medianos de Star Trek ou Star Wars do que algo com a assinatura criativa da Pixar.
Visualmente, é claro, Elio não decepciona. As cores são vivas, os mundos alienígenas têm personalidade e o trabalho técnico da animação continua no alto padrão que consagrou o estúdio.
Mas o impacto emocional, que em obras como Up ou Divertida Mente era inevitável, aqui é diluído por uma narrativa que prefere andar em círculos em vez de se aprofundar.
Roteiro do filme Elio
O roteiro, por sua vez, segue um caminho previsível. A estrutura é familiar: uma criança isolada encontra um novo mundo e, ao final, aprende a aceitar sua própria realidade com mais ternura.
É bonito, sim, mas também repetitivo. O maior pecado de Elio talvez seja esse: em vez de subverter ou reinventar a fórmula Pixar, ele apenas a recicla, com menos força, menos ousadia e menos brilho.
Sintomaticamente, Elio estreou em salas quase vazias, mesmo durante um período tradicionalmente promissor como o início das férias escolares. Esse distanciamento do público talvez não esteja relacionado à qualidade do filme em si, mas à saturação de um modelo narrativo que já não encanta como antes.
A Pixar, que sempre foi sinônimo de inovação e emoção profunda, parece agora flertar com o comodismo e Elio é reflexo disso.
Ainda assim, seria injusto dizer que o filme é um fracasso. Para os mais jovens ou para quem busca uma história sensível sobre pertencimento e laços afetivos, Elio tem o seu valor. Ele emociona, mesmo que timidamente.
Ele encanta, mesmo que não inove. E, acima de tudo, ele nos lembra que ser diferente não é um problema – é uma forma de encontrar o próprio lugar no universo.
Porém, para um estúdio que já nos acostumou a sair do cinema com os olhos marejados e o coração em êxtase, Elio é apenas… agradável. E talvez isso não seja suficiente para quem ainda espera da Pixar a mágica que um dia redefiniu a animação.