Crítica: “I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston”
A premiada cantora, considerada a maior de todos os tempos ganhou um filme que celebra sua carreira
Publicado em 14 de Janeiro de 2023, às 14h10
Estreou na última quinta-feira (12) a cinebiografia de uma das maiores vozes que já existiram no mundo. A primeira cantora solo a atingir 7 vezes consecutivos o topo das paradas musicais, vencedora de 7 Grammy Awards e mais de 200 milhões de discos vendidos, o filme “I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston” conta a trajetória de sucesso da cantora desde os tempos em que cantava no coral da igreja até o estrelato, passando por grandes fases importantes da sua carreira. Além disso, o filme também nos convida a entender um pouco sobre a vida pessoal de Whitney, passando por suas realações amorosas, familiares e o vício em drogas que resultou na sua morte precoce em fevereiro de 2012.
O filme foi dirigido pela atriz, roteirista e produtora Kasi Lemmons, que já tinha experiência em conduzir cinebiografia, com Harriet, lançado em 2019, até então o seu filme de maior bilheteria. Para a direção de I Wanna Dance with Somebody, Lemmons teve a parceria de Anthony McCarten na assinatura do roteiro. McCarten é considerado hoje um dos maiores roteiristas e produtores da indústria hollywoodiana. Seus últimos 4 roteiros (“A Teoria de Tudo”, “Destino de uma Nação”, “Bohemian Rapsody” e “Dois Papas”) renderam uma coleção de indicações ao Oscar em categorias importante como Melhor Filme e Melhor Ator.
Ainda sobre o roteiro, é nítido que McCarten usou a mesma formulinha da cinebiografia de Freddie Mercury, o Bohemian Rhapsody, para a tentar resumir a grandeza de Whitney Houston em quase duas horas e meia de filme. O storytelling é igualzinho: O início da carreira, as gravações em estúdio, os shows importantes, o final com o medley das músicas “I Loves You, Porgy”, And I Am Telling You” e “I Have Nothing”, que ficou impossível não lembrar aquele final do filme com o Queen se apresentando no Live Aid. E agora pensando aqui… Até o nome do filme também foi inspirado, sendo sempre o nome de uma das canções mais famosas de cada artista.
Na minha visão de fã de música e fã de cinebiografias, talvez não tenha sido uma boa escolha utilizar essa fórmula de criação, pois apesar do filme ter o tempo de duração acima do comum, senti que a história diante dos meus olhos passou muito rápido. Por vezes, eu como telespectadora, não conseguia me conectar com a personagem ou com a cena em si.
Algumas passagens importantes da carreira não foram bem aproveitadas, um exemplo é o próprio filme “O Guarda Costas“, de 1993, que Whitney estrelou ao lado de Kevin Costner, foi um marco dos anos 90 pelo recorde de bilheteria, sendo até hoje a trilha sonora de filme mais vendida da história. No filme foi resumida em 2 cenas apenas.
Senti falta também de um aprofundamento durante a fase pós reabilitação e como a música “I Look to You” foi importante para colocar a artista de volta nas posições de sucesso. No filme, mostra a Whitney nesse momento como se estivesse lutando contra ostracismo, mas ela nunca foi tão apagada assim nessa fase e quando essa música foi lançada depois de anos, tornou-se um grande sucesso, aqui no Brasil chegou a ser tema principal de novela das nove.
Outro ponto que me pegou foi a relação amorosa de Whitney Houston e Bobby Brown. No filme o casamento dos dois é muito romantizado, mascarando a série de abusos e violências que a cantora sofreu ao lado dele. A narrativa também induz o telespectador a acreditar que o vício em drogas de Whitney não foi potencializado por Bobby.
Porém um dos acertos de roteiro que vale destacar é a importância que a história deu para a bissexualidade de Whitney. A cantora desde jovem mantinha uma relação amorosa com Robyn Crawford (interpretada por Nafessa Williams), que mais tarde virou sua diretora criativa. O filme, desde o início, mostra como as duas se conheceram e como uma era apaixonada pela outra e que, por amor, as duas precisaram esconder esse romance para que o Whitney pudesse brilhar cada vez mais, já que a homofobia nos anos 80 era muito mais cruel do que nos tempos de hoje. Até hoje familiares de Whitney negam e invisibilizam o relacionamento das duas e a bissexualidade da cantora e achei muito poderoso as cenas iniciais de duas mulheres se amando muito, pegando de surpresa quem está ali assistindo.
Outro um acerto que merece destaque também é a escolha da atriz Naomi Ackie para o papel de Whitney Houston. Ackie conseguiu incorporar as fases de Whitney com muita maestria e mesmo em cenas onde ela está dublando a voz de Whitney, o telespectador aprecia como se as músicas estivessem saindo de sua própria voz.
O filme, num geral, é uma porta de entrada para quem quer conhecer a vida e obra da cantora. É uma boa viagem musical cheia de nostalgia e emoção, pois a obra conta com as gravações originais de 22 canções de Whitney, remixados especialmente para o filme.
E se você deseja aprofundar no que foi mostrado no filme, eu super indico o documentário “Whitney” lançado em 2018. A grandeza de Whitney Houston merece que todos saibam de verdade a importância que dela na história da música e principalmente sobre tudo o que ela abdicou para ser o que foi.