Conheça ‘Erzsébet Báthory’, a vilã de ‘Castlevania: Nocturne’ inspirada em serial killer

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Erzebet Báthory foi inspirada numa história real

Gabriel Barbosa

Publicado em 28 de Setembro de 2023, às 12h40

Erzsébet Báthory de Castlevania: Nocturne, foi inspirada em uma condessa serial killer. Foto: DivulgaçãoErzsébet Báthory de Castlevania: Nocturne, foi inspirada em uma condessa serial killer. Foto: Divulgação

Erzsébet Báthory, vilã de Castlevania: Nocturne mais conhecida como a “Condessa Sangrenta”, é uma figura histórica macabra que assombrou o século XVI e XVII na Europa Oriental, especialmente na Hungria, sua terra natal.

A personagem, é apresentada com a salvadora dos vampiros, garantindo a eles um jeito de viverem livremente e não às escuras.

No anime, ela é muito temida e extremamente poderosa, e na vida real foi responsável pela morte de centenas de jovens camponesas, perpetrando atos de violência e sadismo inimagináveis.

Uma Vida Macabra

Condessa Erzsebet Báthory. Foto: Divulgação

Nascida em 1560 em Byrbathor, na Transilvânia (atual Hungria), Elizabeth Báthory veio de uma família nobre e influente. Aos 15 anos, casou-se com seu primo, o príncipe Ferenc Nádasdy, que possivelmente a introduziu às técnicas de tortura. Após a morte do marido, a condessa Báthory afundou-se em uma espiral de crueldade, atraindo jovens para seu castelo e sujeitando-as a torturas horríveis antes de sua morte.

As torturas incluíam mutilações terríveis, como cortar dedos e cravar agulhas sob as unhas, espancamentos com porretes e açoites, queimaduras e banhos gelados em climas extremamente frios.

O ápice de sua monstruosidade era seu banho de sangue, onde ela se banhava no sangue de suas vítimas na crença de que isso a manteria jovem. Estima-se que cerca de 650 meninas tenham perdido a vida nas mãos dessa assassina em série, tornando-a a maior assassina em série feminina da história.

É preciso ter em mente que estamos falando de uma época em que direitos humanos não existiam, de modo que corretivos severos costumavam ser aplicados na criadagem, principalmente naquela parte do continente europeu. Acometida por fortes dores de cabeça, é bem provável que a condesse aplicasse alguns tabefes e beliscões em empregados que não executavam as ordens de forma precisa. Gritos e cenas desagradáveis também podiam ocorrer.

A despeito da má fama de Elizabeth Bathory, as camponesas afluíam e subiam cantando o caminho do castelo. Eram moças muito jovens, na maioria bonitas, louras, com pele bronzeada, não sabendo nem mesmo assinar os seus nomes, supersticiosas e desajeitadas.

Ruínas do castelo Csejthe, pertencente a Elizabeth Bathory. Foto: Divulgação

A vida dessas jovens em casa, sobretudo nas cercanias de Csejthe ‘onde as pessoas eram ainda mais estúpidas do que nos outros lugares’, era menos invejável do que a vida dos bois de seu pais. Ujváry János, o criado de Elizabeth, não tinha nenhuma dificuldade em traze-las das aldeias vizinhas para faze-las entrar para o serviço da castelã do Nyitra. Bastava prometer às suas mães uma saia nova ou uma pequena jaqueta (PENROSE, 1992, p.64-5).

Entretanto, a mesma criadagem que afluía para o castelo de Csejthe começou a espalhar histórias da suposta maldade e violência de sua senhora. Numa época em que era costume entre os nobres castigarem sua criadagem, Elizabeth ganhou fama de ser a mais severa dentre seus pares, chegando até mesmo a procurar (e em certo grau inventar) motivos para exercer tais correções.

Diz-se que suas sentenças podiam variar até mesmo de acordo com as estações do ano: no inverno, ela ordenava que os desobedientes fossem despidos e jogados na neve para receberem banhos de água fria e morrerem congelados; no verão, ela os amarrava em árvores com o corpo coberto de mel para que os insetos devorassem-nos ainda vivos.

Todo esse folclore criado em tordo da lenda da “condessa sanguinária” atravessou a espessura do tempo, de modo que hoje é muito difícil saber o que é fato e o que ficção em tais narrativas.

Com efeito, muitos acreditam que, além de uma infância perturbada, a suposta maldade de Elizabeth também foi influência por alguns membros de sua família, embora não tão ilustres quanto os que foram citados anteriormente: é caso de seu irmão, Stephan, que era alcoólatra e dotado de certo comportamento libertino; de seu tio acusado de adesão às práticas de magia negra e do culto ao demônio; e de sua tia, Klara Bathory (conhecida por “se divertir” das formas mais exageradas com seus empregados).

Esta última, por sua vez, estaria intimamente ligada à sua sobrinha. No processo difamatório movido contra Elizabeth anos depois, foi dito que as duas mantinham um relacionamento que ia além dos laços fraternais (alguns pesquisadores dão ênfase à hipótese de que Elizabeth e sua tia Klara mantinham um romance lésbico). Muitas pessoas que deviam dinheiro ao conde Nadasdy, incluindo nobres de outros países, começaram a espalhar boatos de que a condessa era uma mulher perversa e libertina.

Opinião essa que contrastava com outros relatos da época: foi dito que quando Elizabeth deu à luz em 1585 a uma menina batizada de Anna, ela era uma boa mãe, atenciosa e carinhosa. Ela e Ferenc teriam mais duas filhas, Ursula e Katherina, e em 1598 um menino chamado Paul.

De acordo com os termos de acusação levantados no processo contra Elizabeth, ela contou com a ajuda de vários cúmplices, que encobriam todos os seus atos criminosos. Sem eles, ela provavelmente teria sido desmascarada muito antes do que pudesse imaginar.

Ao seu lado estava um serviçal conhecido apenas pelo nome de Fczkco; Helena Jo; a ama de leite de seus filhos, apelidada de Dorka; e uma lavadeira conhecida como Katarina Beneczky completava o quinteto. Em 1604, o conde Nadasdy morreu e, depois de quatro semanas de intenso luto, Elizabeth decidiu que era hora de continuar sua vida na bem-aventurada corte de Viena.

Foi na corte dos Habsburgo onde se diz que Elizabeth conheceu Anna Darvulia, que supostamente lhe ensinou novas táticas de tortura e, de acordo com alguns pesquisadores, também se tornou sua amante (até hoje, a suposta homossexualidade de Elizabeth Bathory se constitui numa afirmação bastante preconceituosa, utilizada para alimentar a lenda pejorativa da “condessa de sangue”).

Naquela época, porém, a nobre já estava com 44 anos, idade considerada avançada para uma mulher do período. Muito vaidosa, ela viu aos poucos sua pele marmórea ganhar as primeiras rugas. É nesse ponto que começa a lenda dos seus famosos banhos de sangue.

Julgamento e Morte

Os boatos sobre a Condessa Sangrenta tornaram-se insustentáveis, e em 1610 as autoridades húngaras iniciaram uma investigação. Confirmada sua culpa, Elizabeth Báthory foi condenada à prisão perpétua, e quatro de seus cúmplices foram sentenciados à morte na fogueira. Após quatro anos na prisão, foi encontrada morta em 21 de agosto de 1614.

A Lenda que Vive

Lady Gaga como ‘A Condessa’ em American Horror Story, inspirada em Elizabeth Báthory. Foto: Divulgação

Sua suposta obsessão pela juventude eterna, com banhos de sangue, é um elemento que a liga à imagem clássica do vampiro, como o Conde Drácula. No entanto, as ações de Báthory eram muito reais e cruéis, e seu legado continua a ecoar através de histórias sombrias e perturbadoras.

Embora permaneça incerto se Elizabeth Báthory foi uma assassina desumana ou vítima de conspiração, sua história fascinante e perturbadora continua a intrigar e assombrar, deixando uma marca indelével na história e na cultura popular.

Sua figura continua a influenciar a narrativa em várias mídias, mantendo viva a lembrança da Condessa Sangrenta na imaginação coletiva.

Vida da Condessa

Na época em que a condessa viveu, o padrão de beleza feminino celebrava o culto à mulheres de cabelos loiros, olhos claros, lábios pequenos e proporções corporais delicadas, conforme podemos observar nos vários retratos da virgem Maria e de Vênus, pintados no período. Infelizmente, o único retrato pintado de Elizabeth Bathory em seu tempo de vida pouco contribui para averiguar as características de sua lendária beleza.

Mas, de acordo com os registros, ela era considerada uma mulher fascinante, com sua cultura erudita, um modo sinuoso com que costumava cerrar as pálpebras de cílios castanhos para atrair seu interlocutor e seu porte altivo e misterioso. Tendo testemunhado verdadeiros horrores na infância e se casado por conveniência, não era de se esperar que fosse uma mulher feliz.

Frequentemente doente, ela vivia cercada de uma grande quantidade de serviçais, que estavam à sua disposição munidos com remédios entorpecentes, para curar sua dor de cabeça. Todas as manhãs a condessa era cuidadosamente penteada por suas criadas, que arrumavam seus cabelos para trás, revelando uma testa inteligente e seu rosto oval.

Seja como for, a lenda da “Condessa Sangrenta” viveu por mais de 400 anos e acabou servindo de inspiração para diversas obras da cultura pop, como já mencionado anteriormente.

Vale lembrar que alguns escritores acreditam que Báthory serviu de inspiração para até mesmo o clássico livro Drácula, de Bram Stoker, publicado em 1897.