Crítica | Black Mirror (6° temporada)
Série antológica retorna com episódios medianos e com pegada mais fantasiosa
Publicado em 28 de Junho de 2023, às 22h33
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Quase quatro anos depois, Black Mirror retorna em uma nova temporada de cinco episódios antológicos, com as críticas ácidas características da série, as novas histórias se mantem no mais do mesmo e acabam caindo para um lado fantasioso na tentativa de se reinventar.
Embora a série sempre tenha tido um fundo tecnológico em suas tramas, o que chamava a atenção eram os extremos em que os personagens se encontravam. Nessa temporada temos questionamentos rasos e críticas óbvias, que tentam inovar ao alfinetar o próprio conteúdo dos streamings, mas sem trazer aquele estalo no final, que nos deixava pensando no desfecho por algum tempo.
Como qualquer série antológica, tem seus altas e baixos, alguns temas são realmente interessantes, porém o desenrolar se torna previsível. Admiro a tentativa de trabalhar novas abordagens, em busca de se reinventar, mas como já foi dito, a questão de fundo só era um dos detalhes que trouxeram fama a Black Mirror. No fim acabamos com um saldo negativo de qualidade, quem vem caindo a algumas temporadas, deixando as expectativas cada vez mais baixas.
Uma coisa a se comentar é o grande número de estrelas trazidas para essa temporada, que deixa a expectativa dos episódios com suas presenças lá no alto. Mesmo assim cada enredo tem suas particularidades, trazendo questionamento e temas diferentes, então vamos falar brevemente de cada história, para ser justa com as diferentes narrativas:
Joan Is Awful
Para abrir a temporada, temos um vislumbre do que já foi a série. A personagens Joan vê sua vida virar ao avesso após ter sua intimidade adaptada em uma série no Streaming conhecido como Streamberry (entendeu a referência?), ao questionar a situação é apresentada aos “termos de uso” das plataformas, onde basicamente se submeteu aos algoritmos.
Com uma espécie de “autocrítica” que não vai para frente, o episódio se resumi a uma busca frenética para acabar com a situação, sem desenvolver melhor o tema e caindo no clichê da metalinguagem.
Loch Henry
Com uma pegada de mais terror e suspense, esse episódio mira a banalização da violência do gênero “True Crime”. Nele o casal, interpretado por Myha’la Herrold e Samuel Blenkin, volta a cidade natal do garoto em busca de uma história para seu documentário, e acabam descobrindo segredos obscuros de antigos assassinatos no local.
Mesmo sem tentar trabalhar uma temática mirabolante, esse é o episódio que mais em cativou na temporada, o clima tenso prende a atenção do começo ao fim, e o final amargo nos deixa com uma sensação de angústia semelhante ao das temporadas anteriores.
Beyond the Sea
Estrelado por Aaron Paul, Josh Hartnett e Kate Mara, esse foi o episódio com mais divulgação da temporada. Nele temos dois astronautas que se veem dividindo o mesmo corpo artificial na terra, após um deles ver sua família ser assassinada e não poder fazer nada, no decorrer da história presenciamos o trauma virar uma obsessão pela mulher do colega de trabalho, desencadeando uma situação de empasse entre eles.
Eu particularmente gostei muito da ideia desse episódio, que se ambienta nos anos 1969, mas a narrativa foi para um lado diferente do que eu não imaginava, e embora as expectativas tenham sido minhas, ainda acredito que transformar um trauma familiar em uma espécie de triangulo amoroso bizarro foi uma decisão um tanto frustrante, se arrastando por 1h20min para chegar à conclusão. Mas essa sim merece um adendo, pois nos deixa curiosos, questionando o que faríamos numa situação semelhante.
Mazey Day
Esse foi o episódio mais curto e simples da nova leva, não se aprofunda em nenhum questionamento específico e tenta inovar com uma nova abordagem, que é diferente da que trouxe Black Mirror aos holofotes. Nele a paparazzi, vivida por Zazie Beetz, busca por um furo de uma atriz em decadência, mas logo se depara com uma verdade macabra sobre a famosa.
Nem a história, nem a estética de Mazey Day trazem algo realmente interessante, o que temos é a tentativa de revigorar a série com um tema mais fantasioso. Oque não seria um problema, se tivéssemos um aprofundamento maior em alguma abordagem, não apenas correria e matança.
Demon 79
Mais uma história que se distancia dos primórdios tecnológicos de Black Mirror, em Demon 79 vemos a uma jovem que fecha um pacto com o demônio sem querer (Oque?), e agora deve sacrificar três vidas humanas para evitar um apocalipse nuclear.
Com uma narrativa rápida e divertida, vemos de relance uma crítica sobre a corrupção humana, mas como nos episódios anteriores, acabamos na superficialidade. Mesmo tendo seu charme, não parece ser parte de Black Mirror.
Em conclusão, temos uma 6° temporada recheadas de histórias interessantes, mas pouco explorada, que avulsas poderiam ser muito interessantes, mas sofrem do fardo de fazerem parte de uma série conhecida e com muitas expectativas. A inovação de temas acaba gerando uma estranheza, mas o cerne da questão e a falta profundidade e questionamentos instigantes que consagraram Black Mirror.