Terceira temporada de Bom dia Verônica é boa? (Contém spoiler)

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Será que a última temporada da série deixou a desejar ou entregou tudo o que queríamos?

Autor Matheus Vilas Boas
Matheus Vilas Boas

Publicado em 21 de Fevereiro de 2024, às 20h25

Terceira temporada de Bom dia Verônica é boa? (Contém spoiler)Foto: Divulgação Netflix

“Bom dia, Verônica” é uma série nacional baseada em um livro de mesmo nome. Durante os três anos de exibição, acompanhamos a jornada de Verônica e o caso que ela se empenhava em desvendar.

As duas primeiras temporadas, em minha opinião, foram bastante sólidas, apresentando uma trama bem elaborada e personagens bem desenvolvidos. Tínhamos dois vilões pelos quais realmente nutrimos raiva, mesmo conscientes de que eram apenas atores.

Mas e quanto à última temporada? Ela conseguiu estar à altura das duas anteriores? O vilão final foi devidamente explorado? Será que três episódios foram suficientes para concluir essa história?

Em resumo, a última temporada realmente cumpriu as expectativas? Bem, tentarei abordar todas essas questões ao longo deste texto.

Elenco de Peso

É inegável que a série conseguiu reunir um elenco recheado de estrelas, e nessa última temporada, a adição de nomes como Rodrigo Santoro e Maitê Proença confere à produção um peso adicional.

Afinal, não é todo dia que uma obra brasileira consegue contar com atores de tamanha magnitude. Esse elenco, sem dúvida, destaca-se como um dos pontos fortes de “Bom dia, Verônica”.

Além disso, vale mencionar a direção, que, apesar de algumas falhas, entregou um trabalho de qualidade ao longo das três temporadas.

Isso ajuda a quebrar o estigma de que produções nacionais não podem ser apreciadas, mostrando às pessoas que o Brasil é capaz de criar séries de alto nível.

Foto: Divulgação Netflix

Poucos episódios

Começando pela quantidade de episódios da série, considero um erro o número atribuído a Bom Dia, Verônica. Acredito que a série merecia uma extensão maior para um desenvolvimento mais completo da história. Enquanto a primeira temporada consiste em oito episódios bem trabalhados, culminando em um ápice nos capítulos finais, a segunda temporada conta com seis episódios igualmente bem elaborados, escalando a situação de forma consistente. Dessa forma, é razoável concluir que a terceira temporada merecia, no mínimo, cerca de cinco episódios adicionais para conseguir abordar as histórias e concluir as pendências das temporadas anteriores.

Senti que, em certo momento do último episódio, a narrativa assume uma abordagem um tanto superficial, assemelhando-se a uma novela. Houve uma passagem rápida pelo desfecho de cada personagem, sem a devida profundidade, apenas para oferecer uma visão superficial de suas situações. Essa abordagem desfavorece a série, criando uma sensação semelhante às novelas antigas, onde os diretores precisavam explicar o destino de cada personagem em um curto espaço de tempo para satisfazer o público.

Além disso, o fato de a terceira temporada ter apenas três episódios prejudicou a construção do vilão, que tinha potencial para se tornar um antagonista memorável. Rodrigo Santoro é um excelente ator, e seu personagem tinha todos os elementos para se destacar como o vilão mais odiado da história. No entanto, senti que faltou profundidade em sua caracterização e desenvolvimento, devido à limitação de episódios.

A escassez de episódios também afetou o desenvolvimento dos personagens das temporadas anteriores. Em particular, senti falta de uma abordagem mais aprofundada da personagem interpretada por Klara Castanho, Angela. Na segunda temporada, Angela ganhou relevância e se tornou um elemento-chave, porém, na terceira temporada, ocupou  uma posição secundária, desperdiçando o potencial de sua personagem para uma maior exploração e desenvolvimento.

Apesar dos poucos episódios, a série ainda assim teve aspectos positivos. No entanto, senti falta de uma exploração mais aprofundada de certos personagens e da oportunidade de desenvolver histórias mais complexas, que certamente renderiam episódios de alta qualidade.

Rodrigo Santoro e Maitê Proença atuando em "Bom dia ,Verônica"
Foto: Divulgação Netflix

O vilão

Explorando mais a fundo a figura do vilão, é digno de nota o desempenho de Rodrigo Santoro, evidenciando sua excelência como ator. Apesar das limitações impostas pelo número reduzido de episódios, sua interpretação conseguiu transmitir a frieza e a calculista natureza do personagem. No entanto, sinto que a caracterização do antagonista careceu de um desenvolvimento mais robusto, uma narrativa mais elaborada que pudesse verdadeiramente solidificar sua posição como o grande arquiteto por trás de tudo.

Compreendemos as motivações do vilão, mas em comparação com os antagonistas das temporadas anteriores, percebo uma certa defasagem, especialmente considerando o desfecho do seu personagem. Há uma lacuna na explicação de como ele construiu seu império e o motivo pelo qual Matias e Brandão o temem tanto, conforme sugere a série.

Em uma cena particular, fica evidente que ele não reconhece o paralelo entre suas ações e as de seu pai no orfanato, revelando até repulsa pelas atrocidades cometidas por Matias contra sua filha, embora ele mesmo perpetue situações similares com outras jovens, ainda que de maneira distinta. Isso me leva a ponderar se ele genuinamente acreditava estar agindo para o bem, ou se sua maldade o levava a tentar fazer com que as mulheres experimentassem o sofrimento que sua mãe vivenciou no orfanato.

Outro aspecto marcante do vilão é sua frieza, expressa na forma como ele compara as mulheres mantidas em cativeiro aos seus cavalos, tentando subjugá-las de maneira análoga, uma imagem que certamente choca os espectadores

Rodrigo Santoro interpretando seu personagem em "Bom dia , Verônica"
Foto: Divulgação Netflix

O desfecho de Verônica

Durante a primeira temporada, acompanhamos Verônica, uma simples escrivã, envolvida em um caso perigoso ao ajudar Janete a se “livrar” de Brandão. Embora Janete não sobreviva, podemos afirmar que Verônica não apenas a ajudou, mas também aqueles que sofriam nas mãos do policial corrupto. Ao longo da temporada, testemunhamos o desenvolvimento da personagem, enfrentando diversas situações e desafiando não apenas os vilões, mas também um sistema que não oferece apoio.

Na terceira temporada, encontramos uma Verônica mais madura, não mais a mesma escrivã da primeira temporada, mas sim uma mulher que colocou Matias na prisão e acabou com a vida de Brandão. No entanto, ela comete alguns deslizes logo no início, o que para mim não fez muito sentido. Embora Jerônimo tenha certa lábia, a confiança que Verônica deposita nele, após tudo o que passou, parece estranha. Não sei se foi intencional para mostrar que ela ainda tinha muito a evoluir ou apenas uma maneira simplista de interagir com o vilão. A confiança torna-se ainda mais estranha quando ela visita Matias na cadeia com Ângela e, em vez de chamar seu parceiro de longa data, Prata, confia tudo a um homem recém-conhecido, colocando tudo em risco.

Ao longo dos episódios, vemos o lado materno da personagem, que, apesar de ter dois filhos, foi deixado um pouco de lado nas últimas temporadas. Isso mostra que Verônica amava seus filhos, mas priorizava seu trabalho e ajudar os outros. Nesta última temporada, vemos uma Verônica muito preocupada com sua filha sequestrada, cometendo erros não por inexperiência, mas porque o instinto materno fala mais alto. Essa foi uma escolha acertada, pois faltava um pouco desse aspecto na personagem, mostrando sua vulnerabilidade, mesmo quando tentava se mostrar forte e destemida.

Quando Verônica é sequestrada, descobrimos que ela é irmã de Jerônimo e uma das filhas que Maite teve forçadas no orfanato. Segundo Jerônimo, ela tinha “sangue puro” e um “propósito maior”. Gostei dessa revelação, pois nos faz entender melhor a trajetória de Verônica e seu pai, além da importância de Prata em sua vida, já que foi ele quem trocou as documentações para esconder a verdade sobre sua origem.

No último episódio, testemunhamos a versão final de Verônica, uma mulher motivada a ajudar outras mulheres, mas também movida pela vingança. Quando ela lidera o motim e as mulheres no leilão, fica claro que sua personagem atingiu seu limite. Ela não busca mais justiça, mas sim vingança, mesmo que seja com as próprias mãos. Ao longo das temporadas anteriores, isso já vinha sendo sugerido, mas nesta temporada, ela finalmente atinge seu ponto de ruptura e busca vingança contra todos os que causaram sofrimento às meninas do cativeiro.

Foto retirada da série "Bom dia , Verônica"
Foto: Divulgação Netflix

Saldo final

Podemos afirmar que “Bom dia, Verônica” aborda uma variedade de temas sensíveis ao longo de todas as temporadas de maneira perspicaz, levando-nos a considerar a veracidade dessas situações e a refletir sobre elas. Na última temporada, a abordagem dos leilões e a participação de pessoas ricas, cientes de sua impunidade, é frustrante, pois retrata de forma crua a realidade do nosso país.

Apesar das críticas direcionadas à última temporada, é inegável o saldo positivo que “Bom dia, Verônica” alcança, consolidando-se como uma sólida série nacional. As atuações são primorosas, os temas são tratados com sensibilidade, sem deixar de evidenciar sua importância. A série será lembrada com saudade, deixando nos espectadores o desejo de mais momentos cativantes.

Durante esses três anos, “Bom dia, Verônica” apresentou personagens envolventes, desfechos convincentes e narrativas envolventes, instigando-nos a questionar por que a Netflix não optou por prolongar a produção. Talvez tenham optado por encerrar no auge, porém é inegável o apreço do público pela série, que será lembrada como um orgulho das produções nacionais, apesar de seus momentos mais pesados.

Essa crítica é feita não por um especialista ,mas sim por uma pessoa que aprecia filmes e séries e queria deixar sua opinião registrada.