Tipos de Gentileza abraça o absurdo para cativar público (Crítica)

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Novo filme do cineasta Yorgos Lanthimos traz Emma Stone, Jesse Plemons e Willem Dafoe em três diferentes versões

Autor Matheus Rocha
Matheus Rocha

Publicado em 28 de Agosto de 2024, às 09h37

Emma Stone em Tipos de Gentileza sentada com jaqueta azul e sorridente.Foto: Searchlight Pictures/Reprodução

Lançado oficialmente na última quinta-feira (22), o filme Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness, no original) traz de volta o diretor Yorgos Lanthimos aos cinemas após o grande sucesso de Pobres Criaturas (Poor Things), que esteve presente no Oscar deste ano

A produção traz um grande elenco para narrar três histórias distintas, que se unem na reflexão sobre a gentileza e o absurdo. Abaixo, você poderá conferir mais detalhes sobre o filme e saber se vale a pena assisti-lo nos cinemas. Aproveite!

Tipos de Gentileza: qual a história do filme?

Conforme descrito anteriormente, o longa-metragem oferece três narrativas distintas aos espectadores em pouco mais de 150 minutos de duração. Entre fabulações e especulações, o roteiro abraça o absurdo e o realismo mágico desde o início. Cada história, inclusive, é introduzida a partir de um letreiro, que indica algo sobre R.M.C. (interpretado por Yorgos Stefanakos).

A primeira história foca na rotina de Robert (Jesse Plemons), que parece trabalhar em uma grande empresa e estar muito incomodado com as ordens de seu chefe Raymond (Willem Dafoe). Por meio dos diálogos, o público fica sabendo de algumas nuances dessa amizade e que Raymond deseja que Robert cumpra uma difícil tarefa: atropelar uma pessoa até que ela morra.

Com o mesmo elenco, a segunda história apresenta o policial Daniel (Plemons), que vive uma rotina exaustiva e melancólica, visto que sua esposa Liz (Emma Stone) está desaparecida. Ele compartilha seus momentos de angústia com o casal Martha (Margaret Qualley) e Neil (Mamoudou Athie), seu colega de trabalho, além de Sharon (Hong Chau), cujo marido também encontra-se sem informações do paradeiro.

Por fim, há uma terceira história. Nela, os espectadores conhecem a saga de Emily (Stone) e Andrew (Plemons), que buscam por uma pessoa específica. Logo na primeira sequência, Anna (Hunter Schafer) é testada, mas não consegue cumprir sua tarefa. Em paralelo às questões de uma possível seita encabeçada por Omi (Dafoe) e Aka (Chau), Emily deseja reencontrar seu ex-marido (Joe Alwyn) e a filha.

Tipos de Gentileza vale a pena?

De maneira geral, o filme apresenta personagens muito diferentes entre si, apesar de serem interpretados pelo mesmo elenco. Além disso, as histórias não estão interligadas em um primeiro momento, fazendo com que a assimilação das ideias ocorra de forma muito bem articulada.

A montagem do filme é inteligente e os planos se encaixam na linha narrativa de forma fluida. O uso de uma trilha sonora mais pop, como por exemplo a clássica “Sweet dreams are made of this” já mostra, desde o início, qual será o tom adotado pela direção, que não é tão ousada quanto outras produções passadas.

Apesar disso, o uso de planos gerais predomina os 150 minutos de projeção, aliado também a planos médios sem movimentação de câmera, mas que tentam trazer os personagens ainda mais para o centro das atenções. Destaque ainda, nesse sentido, para a cena em que Stone dança freneticamente — isso não é spoiler, pois está no trailer.

Há ainda planos detalhes espalhados entre as histórias. Quando eles ocorrem, são capazes de provocar efeitos de curiosidade e indagação na audiência. Um bom exemplo acontece logo na primeira história com um espremedor de laranja.

Curiosamente, ao longo da progressão narrativa, há muitos momentos que podem pegar o público desprevenido, como os desejos absurdos de Daniel na segunda história, além do desfecho curioso da primeira história. Aliás, o roteiro, apesar de expositivo em muitos momentos, também deixa muitas lacunas em aberto para que quem assiste possa encaixar suas peças.

Não há o que reclamar de outros aspectos técnicos como a mixagem de som ou a direção de fotografia. Espectadores mais atentos poderão encontrar texturas no desenho de luz, além de movimentações de câmera muito características em filmes de Yorgos Lanthimos. 

O destaque fica com a direção de arte, pela boa articulação dos detalhes e utilitários de cena, além de figurinos e caracterizações que diferenciam muito bem os personagens entre as histórias. Antes de sair do cinema, vale a pena ficar até o final dos créditos — que também surgem ao término de cada história — para compreender algumas informações jogadas.

Tipos de Gentileza é um filme que vai funcionar para quem o assisti-lo de coração aberto. Muitas pessoas podem terminar suas respectivas sessões e se perguntarem “o que eu acabei de ver?” ou “não entendi” se pensarem apenas no conteúdo, mas, no geral, é um filme que os sentimentos provocados — entre alegria e dor — valem mais do que qualquer coisa em algo que vai além do conteúdo.

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