Crítica: ‘The Last of Us’ é uma escola para adaptações

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A fidelidade da série ao jogo, desde cenários, trilha sonora a personagens, deve ser inspiração para outros diretores e roteiristas

Gabriel Barbosa

Publicado em 18 de Janeiro de 2023, às 08h49

Crítica ‘The Last of Us’ é uma escola para adaptaçõesA fidelização dos personagens, cenários e roupas, são detalhes que fazem a série ser considerada a melhor adaptação dos últimos tempos. Foto: Reprodução/HBO MAX

A adaptação do jogo The Last of Us em formato de série estreou na HBO Max e HBO neste domingo às 23:00.

Desde que a série foi anunciada o receio de muitos fãs, inclusive o meu, era de que o roteirista e o diretor abusassem da liberdade poética para reconstruir o cenário pandêmico diferente do que vimos no jogo.

Na verdade, aconteceu o contrário, pois Neil Druckmann e Craig Mazin que dirigiram e roteirizaram o longa seguiram aquilo que queríamos, um casamento perfeito do jogo com a indústria hollywoodiana. Ambos conseguiram fazer o telespectador se conectar com os personagens e com a história.

O tempo e a demora para ser lançada evidência um cuidado para uma melhor fidelização da trama, que é perceptível a cada segundo. Da mesma forma aconteceu com Avatar: O Caminho da Água, já que o diretor, James Cameron, demorou 14 anos para terminar a continuação do primeiro filme.

Isso mostra que é melhor demorar para lançar e pós-produzir, do que lançamentos desenfreados para acompanhar o atual mercado consumista e imediatista. Que seja um exemplo para as próximas produções.

Sobre a série

Quem jogou The Last of Us ficará com os olhos impressionados do começo ao fim, assim como os ouvidos, já que as vozes de Joel (Luiz Carlos Persy), Ellie (Luiza Caspary), Tommy (Clécio Souto), Tess (Miriam Ficher), Marlene (Midian Almeida), Sarah (Victoria Brow Borges) são as mesmas do jogo e isso colabora numa experiência ainda mais imersiva. Como resultado de um bom roteiro e cenário impecáveis, nossos olhos não saem da tela.

A série não está sendo aclamada de forma positiva pela crítica sem motivo, ela merece ser considerada a melhor adaptação já lançada dos últimos tempos e pode servir como inspiração para outros diretores e roteiristas.

Há uma espécie de linha que percorre enquanto vemos a série, que nos fazer imergir no jogo e nos traz de volta para a adaptação.

Desde o acordar de Sarah (Nico Parker) até os diálogos entre pai e filha que acontecem na trama, são detalhes importantes que se passam no jogo e que não ficaram de fora da série. Esses momentos fazem com que o jogador se aproxime ainda mais deles na série e o mesmo acontece na adaptação.

O carisma e a doçura de Sarah são conquistadores no jogo e a atriz conseguiu transmitir muito bem esses sentimentos, assim como a rígida personalidade de Joel ficou muito evidente. Não há dúvidas de que o elenco escolhido foi o ideal para a trama.

O diretor e o roteirista não mediram esforços em preparar cenas que remetem ao início de um cenário pandêmico e apocalíptico, após a a população ser contaminada pelo fungo cordyceps.

Os carros da polícia e bombeiros nas ruas com certa frequência nos preparam aos poucos para o grande clímax dos primeiros minutos da trama. Não somente isso, mas os aviões, assim como os sons deles, melhoram a experiência. Tudo isso colaborou com o sutil tom de suspense nas primeiras cenas, que deve ser mais explorado nos próximos episódios.

Uma cena que merece destaque neste primeiro episódio é o momento em que Joel volta para buscar sua filha, acompanhado de Tommy (Gabriel Luna), e vemos tudo pelos olhos de Ellie. O diálogo entre os três nesse momento é uma conversa também com o telespectador que pode ser teletransportado para o jogo sem perceber. Nem os palavrões foram poupados na trama, o que melhora a fidelização.

Outro momento que também merece aplausos é após o carro capotar e Joel fugir carregando Sarah nos braços. Diferente do jogo, Tommy não se faz presente, mas o impactante é a hora em que o militar efetua o disparo que altera a história de Joel e Ellie.

Seja no jogo ou na série, o fardado conversa com seu superior para saber se deixa eles vivos ou mortos, e o último foi veredito final. Não é só no jogo que sentimos a dor de um pai ao perder sua filha, mas na série sentimos o mesmo.

O começo de uma nova história

Após o paraíso na terra de Joel ser transformado, ele vira praticamente outra pessoa, da mesma forma que acontece no jogo. Além de ficar mais velho, pois 20 anos se passaram, sua expressão está mais séria e fria. 

O cenário da Zona de Quarentena onde ele vive ao lado de sua companheira, Tess (Anna Torv), também foi uma característica imprescindível para a série, até porque é lá que ele conhece Ellie (Bella Ramsey), a que pode mudar o curso da humanidade. 

Há uma parte em especial de quando Joel mexe um armário e a câmera foca na poeira que sobe no ar. No jogo, antes de iniciar a campanha, somos contemplados com vestígios de poeiras, no menu principal. Detalhes como esses são ricos e demonstram o capricho do diretor e roteirista.

Quando Marlene (Merle Dandridge) aparece para conversar com Joel sobre Ellie, é mais um momento que relembra o jogo, inclusive o comportamento xucro da garota, com palavrões e gestos obscenos também não foram poupados.

Mesmo que você não tenha jogado, a sensação enquanto assiste será de que você jogou. O cuidado em todos os detalhes no episódio piloto de The Last of Us já promete que os próximos não decepcionarão. 

Claro que algumas cenas e momentos são diferentes do jogo como a faca que Sarah dá ao Joel, o DVD que ela pega para assistirem juntos e o fato de Joel buscar respostas pelo irmão enquanto está na Zona de Quarentena em Boston, sendo que no jogo tudo isso não acontece. Mas, tais peças faltando não fazem que a série perca seu posto de melhor adaptação.

Não é à toa que o primeiro episódio se tornou a segunda maior estreia da HBO em 12 anos, pois reuniu 4,7 milhões de espectadores, abaixo somente de A Casa do Dragão, spin-off de Game Of Thrones.

O segundo episódio de The Last of Us estreia neste domingo (22/01) às 23:00 na HBO e HBO MAX.