Crítica de O Brutalista: A grandeza de um filme colossal
O Brutalista consegue matar a fome dos que amam arte, boas histórias e que anseiam por bons termos visuais.
Publicado em 22 de Fevereiro de 2025, às 10h51
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O Brutalista, o audacioso terceiro longa de Brady Corbet, é uma experiência cinematográfica que exige paciência, contemplação e, para muitos, uma dose de reverência.
Com mais de três horas de duração, o filme é uma verdadeira declaração de intenções. Além de falar sobre arte, a trama fala de sacrifício e a luta pela pureza criativa diante das limitações impostas por uma sociedade materialista e capitalista. É também uma metáfora clara sobre o ego, o poder e a luta incessante por reconhecimento.
Corbet, com sua ousadia, busca não apenas contar a história de László Tóth, um arquiteto húngaro sobrevivente do Holocausto. Ele também traça paralelos com sua própria jornada como cineasta. O filme não tem medo de ser grande — tanto na narrativa quanto na forma.
A escolha do formato VistaVision, popular nas décadas passadas e raramente utilizado hoje, se alinha ao estilo grandioso e excessivo do projeto.
Enquanto isso, o uso do 70mm em algumas projeções exibe o filme como uma verdadeira peça de arte cinematográfica. Isso torno um evento para os cinéfilos mais exigentes.
Atuação em O Brutalista
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Adrien Brody, como Tóth, entrega uma atuação magistral, transmitindo uma dor crua que quase se torna palpável. Brody coloca seu personagem no centro de O Brutalista — um homem cuja vida gira em torno da busca por um legado e pela constante rejeição de quem deveria ser seu aliado. Ele revela o desgaste de alguém que se dedicou ao mundo da arquitetura, um campo onde, muitas vezes, a arte se submete ao capital.
Junto a ele, Alessandro Nivola e Guy Pearce desempenham papéis importantes, especialmente Pearce, cujo personagem (Harrison Lee Van Buren) é o reflexo da manipulação capitalista, sempre tentando se apropriar da genialidade alheia.
O filme também aborda questões como o antissemitismo e o confronto com a identidade de Tóth como imigrante. O ambiente americano, com suas complexidades e hipocrisias, é implacável com o arquiteto.
No entanto, O Brutalista tem um viés claro em sua crítica ao capitalismo, retratando o modo como o mercado se apropria da arte. Além disso, o filme traça a redução de seus criadores à sua utilidade como produtos.
Nesse contexto, a relação entre Tóth e Van Buren espelha a própria luta do protagonista pela dignidade e por um lugar de destaque em um mundo que sempre o verá como ‘estrangeiro’.
Porém, o filme não é perfeito. Há uma clara desconexão entre a grandiosidade da proposta e as limitações narrativas que Corbet apresenta. A segunda metade do filme, embora ainda visualmente impressionante, sofre de uma estrutura narrativa que não consegue manter o mesmo ritmo da primeira parte.
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A chegada de Erzsébet (Felicity Jones), esposa de Tóth, à América não é explorada com a profundidade que o filme poderia alcançar. Além disso, o papel de Jones, apesar de suas tentativas, nunca vai além do estereótipo da esposa sacrificada e submissa.
O desandar da carruagem em O Brutalista
A trama perde fôlego quando trata das consequências do vício de Tóth em heroína, com uma metáfora pesada que sublinha uma vulnerabilidade do roteiro. Ou seja, a falta de sutileza na abordagem de alguns temas.
Além disso, o filme peca ao não se aprofundar em questões culturais que poderiam enriquecer ainda mais a narrativa.
Por exemplo, a relação de Tóth com um amigo negro, interpretado por Isaach De Bankolé, poderia ter sido uma oportunidade para um exame mais aprofundado das complexidades raciais e sociais da época. Mas o filme não vai além do superficial.
Em termos visuais, O Brutalista é uma obra de arte. O trabalho de fotografia de Lol Crawley é notável, com a arquitetura sendo uma presença constante na composição das cenas.
A maneira como os personagens são enquadrados, sempre dentro de formas geométricas que fazem referência ao próprio design brutalista, traz uma reflexão constante sobre como o ambiente físico molda a existência humana.
Em última análise, O Brutalista é um filme que, embora imenso e corajoso, pode ser frustrante para aqueles que buscam uma experiência mais coesa e menos excessiva. Sua ambição é inegável, mas, às vezes, a busca por grandeza ofusca a complexidade emocional que poderia ter feito o filme ainda mais impactante.
A obra de Corbet é um reflexo do próprio brutalismo arquitetônico — imponente, áspero, mas com uma beleza que, se olhada de perto, revela um pouco de sua alma.