Não vale a pena ler tudo de Isaac Asimov

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São vários livros ótimos, porém existem obras que destoam do que ele vinha construindo e que, por isso, talvez devessem ser deixados para lá.

Léo Fuita

Publicado em 19 de Outubro de 2023, às 10h51

Isaac AsimovIsaac Asimov Foto: Reprodução / Getty Images

Esse texto contém spoilers importantes dos livros da série de Fundação e da Série dos Robôs. Leia por sua conta e risco.

Terminei ontem o livro 5 da série de Fundação, de Isaac Asimov. Uma série que tem os 3 primeiros livros que beiram a perfeição, de tanto que conseguem te prender e contar uma história incrível com ótimos personagens. Sendo considerada uma série clássica de livros por motivos mais do que justos. Uma das melhores leituras que eu já fiz na minha vida.

Por esse motivo fui atrás de outros livros do Asimov. Li a Série dos Robôs, e até fiz um review para o site aqui, e também fui atrás de Eu, Robô e os outros dois livros de Fundação, o livro 4, Limites da Fundação e o livro 5, Fundação e Terra. O que acabou fazendo com que eu revisitasse um pouco a minha opinião sobre o autor, e que talvez pode ter feito com que o meu apreço por ele tenha diminuído um pouco.

Existe um claro esforço do autor em fazer um único universo onde se passam todas as suas histórias. Mesmo Eu, Robô, que é um livro de contos, é citado aqui e ali em outras obras. Normalmente como lendas, o que eu gosto bastante e acho um puta de um acerto. Mas que em outros casos tem ligações muito mais diretas e que, pelo menos para mim, não são tão boas e tão orgânicas quanto deveriam para que se tenha um mundo mais coeso.

Eu não costumo ir atrás da história do autor e saber sobre a vida dele. Mas pelas histórias que ele conta dá para dizer que existe uma clara fixação dele com a manipulação de mentes. Algo que entra somente no final de Segunda Fundação, se não me engano, e no final do terceiro livro da Série dos Robôs, Os Robôs da Alvorada. Ficando como pequenas inserções que eu gosto, mas que conforme avançam dentro da história nos livros subsequentes se tornam uma muleta que ele claramente não consegue mais largar.

O quarto livro da Série dos Robôs, Robôs e Império e o último livro de Fundação, Fundação e Terra, são os melhores exemplos de como ele se perde na hora de utilizar esse conceito de manipulação de mentes apresentado anteriormente. Fazendo com que muitos dos conflitos que antes eram angustiantes e que não tinhamos ideia de como seriam resolvidos, virem somente uma formalidade que sabemos que os nossos protagonistas passarão ao utilizar desse poder já estabelecido por algum dos personagens dessas obras. Uma muleta que, quando você já sabe que existe, tem pouca limitação que realmente faça diferença e que nos deixe angustiados com o conflito que estão enfrentando.

Mas talvez a questão que mais me irrita desse tipo de dinâmica, é como ela serve para colocar o destino como algo imutável e que você não pode fazer nada para mudar. Já que esse tipo de conceito retira muito do peso de determinadas situações que acompanhamos nos livros e, assim, destrói muito da qualidade que ela possui. Não acabando com a experiência toda mas deixando aquele gostinho amargo que, talvez, eu não queria ter.

Lógico que o título é um exagero. Eu acho que Asimov é um dos autores de ficção científica obrigatórios para quem gosta do gênero. Mas não acho que tudo que ele escreveu é tão bom quanto os clássicos mais famosos. Podendo ficar nos contos de Eu, Robô e nos 3 primeiros livros de Fundação para quem quer ler somente a ‘nata’ do que ele fez.

Eu fiquei meio obcecado por ele e ainda devo ler os livros que faltam. Tanto a trilogia do Império Galático quanto Origens da Fundação e também o Prelúdio à Fundação, que contam a história de tempos anteriores ao que acompanhamos na trilogia de Fundação. Porém agora com um pézinho atrás. Já que a minha experiência com o livro 4 e 5 da série e também com Robôs e Império não ter sido tão incrível quanto a que tive com outras obras. Mas que, talvez, sirva para entender ainda mais sobre o autor e ver que, em outros momentos, ele ainda brilha como fez com as primeiras obras que eu li dele.

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