Crítica | The Electric State: A Graphic Novel distópica e arrebatadora
Uma crítica de The Electric State, a graphic novel de Simon Stålenhag que mistura distopia, ficção científica e uma melancolia arrebatadora.
Publicado em 19 de Fevereiro de 2025, às 08h29
:format(webp)/hull.geekship.com.br/wp-content/uploads/2025/02/Graphic-Novel-The-Electric-State-e-melancolico-e-devastador.png)
Simon Stålenhag não apenas cria histórias; ele pinta memórias de um futuro que nunca existiu, mas que assombra como se fosse real. The Electric State, graphic novel de 2018, é um testamento visual e narrativo do talento do autor sueco em misturar ficção científica, distopia e uma nostalgia perturbadora.
Ambientada em uma versão alternativa dos Estados Unidos nos anos 1990, a obra segue Michelle, uma jovem que atravessa o país ao lado de seu robô em busca de seu irmão. Mas essa não é uma road trip qualquer: as estradas são ladeadas por carcaças de drones militares e cidades fantasmas, enquanto torres colossais, semelhantes a antenas de televisão, sussurram promessas de uma realidade alternativa.
O mundo parece ter sido abandonado à beira do colapso, com resquícios de um passado grandioso sendo consumidos pela decadência.
A ambientação é um dos aspectos mais fascinantes de The Electric State. Stålenhag constrói um universo onde o passado e o futuro colidem em um espectro visual hipnotizante.
Aliás, as ilustrações capturam uma sensação de vazio profundo, onde os resquícios da civilização são engolidos por tecnologias obsoletas e pelo peso de uma existência cada vez mais fragmentada. Além disso, as cores suaves contrastam com a brutalidade da paisagem distópica, e cada página traz uma nova peça desse quebra-cabeça visual e emocional.
Leia também:
- The Electric State: entre a expectativa e a Adaptação da Netflix
- Conheça Simon Stålenhag o autor por trás de The Electric State
- Prepare-se para The Electric State: 10 Filmes Distópicos para entrar no clima
A narrativa, apresentada em prosa intercalada com essas imagens, é um estudo sobre perda e desconexão. Michelle age como uma protagonista silenciosa; seus pensamentos e memórias se fragmentam e refletem a própria desintegração do mundo ao seu redor.
A influência de filmes como Stalker (1979), de Andrei Tarkovsky, e de obras de Philip K. Dick é evidente, mas The Electric State consegue ser algo singular: uma experiência sensorial e emocional ao mesmo tempo. Michelle nos conduz por uma sociedade que se entrega ao escapismo virtual e ao colapso coletivo, um mundo onde as pessoas evitam a realidade a qualquer custo.
Crítica a sociedade em The Electric State
O mais perturbador é como Stålenhag antecipa o impacto viciante das realidades virtuais e da dependência tecnológica de forma profética. Os “neurocasters”, dispositivos usados pelos habitantes desse mundo para escapar da realidade, são um reflexo sombrio da sociedade contemporânea, onde o escapismo digital é cada vez mais inescapável.
Essa crítica à sociedade é um dos aspectos mais fascinantes da obra: em um mundo onde a indiferença e o isolamento dominam, o que resta da humanidade? The Electric State não oferece respostas fáceis, apenas um espelho para nossos próprios dilemas modernos.
O ritmo da história é deliberadamente contemplativo. Não há grandes reviravoltas ou cenas de ação frenéticas. A jornada de Michelle é interna tanto quanto externa, e a tensão se constrói de forma silenciosa, através da atmosfera e da percepção gradual do colapso iminente.
O silêncio, as paisagens desoladas e a imensidão do vazio funcionam como um personagem por si só, evocando uma sensação de desamparo e inevitabilidade.
Ao final da leitura, fica uma sensação de inquietude. The Electric State não busca respostas fáceis nem resoluções convencionais. Em vez disso, ele ecoa como um sonho febril, um retrato de um futuro que parece ao mesmo tempo distánte e inevitável. A profundidade da obra está em sua capacidade de envolver o leitor em sua atmosfera ao mesmo tempo bela e melancólica.
É uma obra-prima visual e literária, digna de ser revisitada para captar cada detalhe dessa odisseia melancólica.
Stålenhag prova mais uma vez que seu talento transcende o visual, criando uma obra que continua viva na mente do leitor muito depois que ele vira a última página.
Leia também:
- The Electric State: Conheça a graphic novel original
- The Electric State: Conheça o elenco do filme da Netflix
- The Electric State: 10 elementos que não podem faltar no filme